Por Stefs Lima
Agora sim posso dizer com toda a certeza que Gracepoint se desvencilhou do caminho de Broadchurch. Ao contrário da semana passada, que morri de tédio, fiquei pregada na cadeira. Tive até medo de piscar para não perder nenhum detalhe. Foi um episódio tenso, com ação, o que proporcionou um transbordar das mais variadas emoções. O cliffhanger da semana passada pode até ter sido o motivo do aumento singular da audiência, pois, nos anteriores, faltava estímulo para continuar por causa do copia e cola. Tudo bem que ainda rola boatos de que essa série não terá uma 2ª temporada (Broadchurch conquistou uma, inclusive, e já está em produção), mas teremos que esperar. Por enquanto, há motivos para celebrar, pois houve ineditismo em alguns pontos da trama, o que deve ter feito a galera dar um pouco mais de atenção à investigação do Danny.
Depois de Mark Solano se livrar das acusações da morte de Danny, o objetivo da trama foi procurar um novo suspeito para malhar até cansar. Os ânimos de Carver estavam no auge, muito mais em comparação aos últimos episódios, pois agora havia uma evidência concreta. Na companhia de Ellie, ambos saíram da fase de suposições e mudaram o quadro da investigação que tem tudo para trilhar um caminho perpetuoso. Lars Pierson foi o cara da vez, uma pessoa que não estava apenas de passagem por Gracepoint. Beth o conhecia, mas, por enquanto, não há como chegar até ele. Por causa da confidencialidade militar, Carver se pegou empacado por causa da dificuldade de ter um mandato de busca o que, aos nossos olhos, não deixa de ser um absurdo. Afinal, como um papel, com um número, no bolso da jaqueta da vítima, não é prova suficiente? Posso achar que aí tem?
Carver ficou nas sombras, o que permitiu Ellie assumir essa parte da investigação. Tudo bem que havia uma segunda intenção: ver como ela se comportaria diante de pessoas que conhece. Logo no começo do episódio, a detetive foi afetuosa com Chloe, ouviu a história de Dean, e deu a entender que passaria a mão na cabeça e pouparia certos detalhes do companheiro de trabalho. Ainda bem que isso não aconteceu. Bem, Ellie não faria isso de qualquer forma porque ela tem uma tremenda ética. A personagem só tem dificuldades de ser fria como Carver. Achei muito bacana vê-la atrás das evidências e assumir o interrogatório do Dean. Foi muito bom vê-la como a responsável de assistir ao vídeo de Danny, um belo tapa na cara que a fez trincar um pouco mais a redoma de perfeição sobre algumas pessoas. Melhor que isso foi Ellie com cara de tacho na frente do Carver. Eu não via a hora de ouvir o detetive dizer que um anjo nem sempre aparenta ser um, e surtei. É a mais pura verdade, gente.
De novo, Ellie se viu na saia justa, agitada pelos próprios sentimentos, e ficou estarrecida por ver um menino aparentemente ordinário agir fora do dito comum. De novo, Carver chamou sua atenção para não se levar pelo emocional. A personagem contrabalanceou bem o que sentia no decorrer da trama, até mesmo diante de Beth, a melhor amiga. Sim, a detetive não tinha o direito de falar nada e, quando quis, preferiu não fazer. Ao menos, não no estilo de Carver. Vejam, todas as aparências e os elos de confiança começam a se deteriorar, e essa magia tem sido respeitada em Gracepoint até então.
Ao longo do interrogatório com Dean, deu para captar que Danny não era uma das melhores crianças. Teorizando, ele estava frustrado e insatisfeito com algo. Por isso, deve ter adotado um comportamento, digamos, rebelde. Vale lembrar que Tommy contou no depoimento que Mark batia no amigo, um motivo suficiente para fazer Danny preferir atitudes que o deixariam irreconhecíveis. Acho excelente essa quebra da vítima inocente, pois oferece variadas indagações. Ainda mais quando se nota o quanto essa ilusão de perfeição é muito enraizada na cidade, como se ninguém tivesse falhas, nem muito menos uma criança que deve ter sido assassinada por um motivo escabroso.
Para intensificar isso, temos Tommy de novo, que espionou as coisas da mãe e encontrou a evidência de Lars. O que ele fará, não sabemos, mas imagino que ele esteja bem a fim de avisar que a polícia está na cola dele. Se Danny o conhecia, ele também, e se há essa proteção, ao ponto dele apagar os arquivos do computador, é porque o bafo é forte.
Carver fez pouco, mas brilhou. Ele é o típico personagem que encontra no mínimo o suficiente para gerar atrito. Voltamos a vê-lo sendo consumido por uma doença sem nome, resmungando sobre a água e sendo 8 e 80 sobre marcar uma reunião com a família Solano para jogar as verdades. Devo dizer que me preocupei com a chegadinha de Gemma para cima dele por motivos de spoiler. Ok que este episódio de Gracepoint ainda repetiu alguns momentos, mas, dessa vez, parece que não haverá tanta diferença. Entretanto, a investigação ganhou um norte diferente e isso o endureceu mais. Além disso, Carver se viu em um drama familiar que ainda nem começou. E, não menos importante, caí para trás de tanto rir com a reação dele ao convite da Ellie para jantar. Eu não cheguei a shippar o personagem do Tennant em Broadchurch, mas, dessa vez, a química dele com a Anna quer me consumir. As expressões dele com a iniciativa dela foram impagáveis. Adoro como ambos se provocam.
Owen está preparado para ser otário e Renee uma vendida para ter informações sobre o caso, só por causa do elo dele com Ellie. Enquanto ele amargura os problemas da mãe, ela usará essa fragilidade para conquistar sua matéria. Nada como iludir um cara que nunca viveu na cidade grande e que, pelo visto, não manja das malícias. Certeza que Owen se dará muito mal com isso, se queimará com Ellie e pedirá para estar morto quando Carver o puxar pelos calcanhares. Mas vamos combinar que o Kevin estava lindo, lindo, lindo, e eu queria ser a Renee que não foi nada burra em levar justamente a bebida que deixa todo mundo tonto rapidinho: vinho. Já dá para imaginar como essa noite terminou.
Outros detalhes pequenos chamaram a atenção. Digo pequenos porque não sabemos o próximo passo da investigação, a não ser encontrar Lars e colocar outro suspeito na sala de interrogatório. Enquanto isso, temos Paul surtando por causa da nítida obsessão e mágoa de cabocla por Beth. Beth escondendo a gravidez e sendo a rainha da tontice por ter sido enganada o tempo inteiro (só não sobre o affair do Mark porque ela sabe). Quem chamou a atenção foi Vince, o cara que arruma skates, o que pode justificar o fato da mãe dele ter o skate do Danny guardado a sete chaves. Agora, o que eles precisavam tanto conversar?
Este episódio teve muito a ver com a imagem das pessoas e do quanto ela começa a se estilhaçar. Bem como o realce aos conflitos familiares, não só dos Solano, mas da culpa de Ellie em estar ausente, bem como Carver que se perdeu no caminho e agora mastiga algo que ainda não foi contado. Foi um episódio que baqueou em muitos sentidos e estou ansiosa pelo novo viés da investigação, esperando que seja inédito também.
Confissão: fiquei meio receosa por causa da queima do barco… Isso também já foi visto. O que mudou foi o episódio em que isso aconteceu.