Aviso importante: é impossível não falar do episódio sem mencionar coisas de Broadchurch. Então, esta resenha tem spoilers.
Então que Gracepoint chegou ao fim e eu definiria essa experiência da seguinte maneira: ela só foi realmente boa para quem não viu Broadchurch. Assisti ao series finale duas vezes para amenizar a raiva que senti ao ver que o encaminhamento da trama seguiu o mesmo trajeto da versão britânica. Um trajeto que só mudou quase no final do episódio.
Admito que estou bem dividida, pois esperava um tremendo desvio. Quando vi Joe recontar o que aconteceu na noite em que Danny morreu, meu sangue parou na testa. Não era isso que esperava e fico furiosa quando minhas expectativas são destruídas. Ainda mais quando houve muita promessa para ínfimas mudanças.
Vejam bem: os showrunners prometeram outro assassino, mas, tendo dois episódios a mais, podiam sim ter explorado melhor as storylines. Especialmente por terem consultoria do criador da premissa dessa série. Estou meio descontente, justamente porque esperava uma mudança radical. Como disse na resenha passada, estava com a sensação de que acompanhar Gracepoint seria uma total perda de tempo. Foi em partes! Houve mudanças sutis no roteiro, como o telefone do mochileiro e o mochileiro, dois itens que seguraram e desviaram as atenções. Porém, os envolvidos perderam a chance de não caírem praticamente na mesmice.
Sei da promessa de não mudar a essência vinda de Broadchurch. Porém, repito: considerando que gravaram dois episódios a mais (a versão britânica tem 8), era esperada uma reviravolta tão brusca que me deixasse desmaiada por dias.
Admito, a revelação de Tom foi um baque, especialmente por causa do motivo. O menino matou o melhor amigo por ir em defesa dele. Chocante no sentido puro da coisa toda. Quando aquele pedaço de madeira atinge a cabeça de Danny, minha respiração falhou. Foi impactante! Compadeci-me pelo menino Tom durante o recontar que terminou de destruir Ellie. Foi muito triste! Porém, esperei que essa narrativa trouxesse uma mudança no relato de Joe, talvez, a ausência da pauta assédio infantil para se diferenciar de Broadchurch, mas tudo se manteve.
No geral, destruíram a vida de Ellie duas vezes. Um marido meio que pedófilo e um filho “assassino”.
Concluindo
Uma das coisas que Gracepoint conseguiu com muita excelência foi escalar atores que transmitiram muito bem todas as emoções dolorosas no desenrolar da investigação. Talvez, até melhor que em Broadchurch. Nesse quesito, não tenho do que reclamar. Beth descobrindo o corpo do filho até Ellie desmoronando na sala de interrogatório e socando Joe, mexeu muito comigo. Sem sombra de dúvidas, a trama, por mais que tenha a mesma temática, conseguiu elevar a maioria dos personagens envolvidos, o que trouxe incontáveis auges emocionais que me derrubaram. A finale conseguiu me abater (só depois que a raiva passou).
Outro detalhe que o remake acertou foi ao preservar (não só o Tennant), a fotografia e as passagens de tempo mais lentas – que reforçaram a dramática da situação, especialmente quando um determinado personagem entrava em foco.
Anna e David deram um show à parte e levaram a trama nas costas em meio a um elenco com caras que poucos conheciam. Sem dúvidas, essa série valeu muito pela maravilhosa atuação dos dois. Contudo, Anna foi a rainha soberana. Como disse na resenha passada, Ellie foi a personagem principal e isso saiu de uma mera cogitação a partir do momento que Joe e Tom foram os responsáveis pela morte de Danny. Foi demais vê-la trocar de sapatos com Carver: ela ficou na defensiva enquanto ele assumiu todo o teor emocional. Como shippei esses dois neste episódio, vocês não fazem a menor ideia.
Quando Emmett desencarna da versão detetive e se torna um amigo para ela, meu coração foi parar na garganta, algo que não aconteceu na versão britânica. Os dois me envolveram muito mais, me divertiram e me fez almejar um casamento. Fim!
Por mais que a storyline do Joe tenha sido um copia e cola, o casamento perfeito dessa trama/dissolução aconteceu graças ao relato da Susan. O que ela contou deu força ao tema pedofilia. Ela disse que o marido assediava a filha. Joe assediou Danny. Por mais que tenha garantido aquele gostinho de raiva, Beth levantou a questão que comentei na semana passada: será que Ellie não viu nada disso acontecer? Será que Susan nunca chegou a ver o que o marido fazia?
Levantar essa dúvida foi pertinente, mesmo que saibamos que Ellie é uma boa pessoa e que Susan tem lá suas crises de personalidade. Contudo, essa é uma questão que ocupa a mente de pessoas reais. Afinal, como é possível a mulher não farejar esse tipo de comportamento dentro do próprio lar?
Uma das investidas que a trama poderia ter tomado era fazer Ellie uma cúmplice (algo que esperei), justamente para lacrar com chave de ouro. Seria mil vezes mais interessante que colocar Tom como o real assassino – que nem pode ser chamado de assassino. Seria brutal, especialmente porque essa mulher atua no cumprimento da lei. Porém, o que fizeram com a personagem foi mais do que suficiente e, se Gracepoint tivesse uma 2ª temporada, seria fácil esperar a detetive como uma nova Carver: fria, racional e distante.
Por mais que tenha ficado com raiva, o series finale me destruiu emocionalmente de novo. Ellie acabou comigo em todos os sentidos. A cena dela aos berros para cima do marido foi de partir o coração.
Li que muitas pessoas consideraram o final de Gracepoint superior ao de Broadchurch. Não diria isso 100%, mas criar o cliffhanger estendeu a agonia. A versão britânica, ciente de uma 2ª temporada, simplesmente deu o caso como encerrado. Na versão americana, a ideia de continuidade foi uma jogada inteligente e inquietante. Foi maravilhoso ver a nova transformação do Carver, saindo do emocional para ser o detetive obstinado. Enfartei quando o personagem revê o vídeo e nota certa cumplicidade entre Tom e Joe.
Pior ainda foi ver a convicção de Ellie em ignorar o telefonema, por sentir que algo está errado. Total faro de mãe. Nesse quesito, o final da versão americana foi mais instigante.
Não cuspirei totalmente em Gracepoint, pois muitas coisas extremamente importantes da versão original foram preservadas. Mesmo com um cliffhanger de aguçar a criatividade para uma segunda temporada que não existirá, não foi uma total perda de tempo. Contudo, esperava mais da construção da investigação, que só fez mudanças sutis ao longo de 10 episódios, sendo que era possível brincar mais.
Agora, acho que o Ziggy merece uma série para ser protagonista, né?