Por Stefs Lima
Estou em crise com este episódio de Gracepoint. Juro que estou fazendo o máximo para não pensar em Broadchurch, mas está cada vez mais impossível. Por saber o que aconteceria na metade da trama, não usufruí tão bem o que aconteceu. Por enquanto, só sei que nada sei.
Para dar engate ao plot de Mark Solano, nada mais sensato que mantê-lo nos holofotes. Tivemos uma pequena provocação com o flashback dele com um Danny choroso, e logo saltamos para a falta de senso desse homem em contar logo de uma vez com quem estava na noite em que o filho foi morto. Esses acontecimentos não mudaram. Por causa disso, o episódio foi um completo sonífero por causa da repetição da storyline desse personagem. Sendo bem sincera, esperava um viés inusitado, mas não. Confesso que fiquei bem de cara por já saber o que rolaria e isso me deixou um pouco para baixo.
Contudo, todas as sensações que esse personagem me provocou em Broadchurch voltaram com extrema força. Quis muito socá-lo. Qual era a necessidade de salvaguardar um segredo que a própria filha sabia? Queria muito invadir Gracepoint e dar um jeito nesse idiota. Só esse homem para se fechar para proteger a própria reputação. Vamos combinar que ele fez o que fez para assegurar a si mesmo e não a família. Não é à toa que Mark continuou a safadeza oculta com Gemma. Mereço?
Por mais que o plot de Mark tenha sido decepcionante, é importante pensarmos nas bordas.
No caso, a detetive Miller. Como disse nas resenhas passadas, ela é a pessoa que mais mudará conforme a investigação se desenrola. No final do episódio, vemos um pouco de evolução da sua personalidade. Da convicção de que Mark não era culpado pela morte de Danny, ela migrou para o ‘não sei’. De novo, o detetive Carver a pressionou para parar de passar a mão na cabeça das pessoas de Gracepoint. Afinal, todos são suspeitos. De novo, Ellie fraquejou pelo emocional ao humanizar a tarefa de encontrar o responsável pelo crime, como se ninguém da cidade fosse o responsável. Como Emmett bem disse, ela quer respostas fáceis e que causem nenhum dano ao clima de boa vizinhança.
A pergunta mais marcante dela foi: como a cidade mudaria se Mark fosse o culpado? O pai de Danny foi só o primeiro de muitos que possuem podres que os colocarão na saia justa. Ele foi só o início, mas o suficiente para trincar as crenças de Ellie sobre a vizinhança. A detetive vive em um borrão e vê todos como perfeitinhos em uma cidade que nunca assistiu a um caos mortífero como aquele. Ninguém é inocente, algo que a detetive começou a ver. Como disse Carver, as pessoas podem sim cometer crimes dependendo das circunstâncias. Acredito que agora a personagem compreenderá a frieza do seu parceiro. Só assim chegarão a algum canto.
A trama também focou o drama de Beth. Ela está desolada tanto pela gravidez como pela perda de Danny. Posso até arriscar a dizer que a personagem sabe o canalha que o marido é, o que justifica a pressão no final do episódio em saber os reais motivos que o fizeram sair da cadeia. Porém, o que pegou mesmo foi o conflito religioso bem como o desespero de encontrar um tipo de conforto. De um lado temos o padre Paul, cujo comportamento afetuoso ao extremo com Beth é suspeito demais, e do outro Raymond, o que tem contato com outra dimensão. Por mais que ela esteja prestes a sufocar, a incógnita que ficou foi: quem seria essa pessoa que matou Danny e que poderia magoá-la? Será que o que o maluco disse é verdade? Considerando Broadchurch, acho bom começarem a se prepararem para o chute no estômago. Nesse ponto, estou bem otimista. Espero não me decepcionar.
Owen conquistou um pouco mais de destaque esta semana e acho que ele tem a mesma síndrome da tia: não consegue desligar o emocional. A diferença é que o jornalista quer status. Se não quisesse, jamais ele teria soltado o tweet sobre a morte do Danny. Renee tem desempenhado uma péssima influência, tentando se entremear em uma comunidade fechadíssima, cheia de insolência. Entendem porque não defendo a classe? Jornalistas são gananciosos, especialmente quem ama a profissão e não se vê fazendo outra coisa. Ficou claro que Owen não perderá a chance de ascensão. Enquanto isso, Renee se tortura para ganhar a simpatia dos moradores, o que tem sido um tanto quanto frustrante para ela.
Contudo, nada mais frustrante que a presença dela no mesmo território do Carver. Foi confirmado que a jornalista rodeará o detetive como um urubu, igual em Broadchurch, justamente para pressioná-lo, mesmo que indiretamente. Tudo por causa do caso em Rosemont que foi para a gaveta inconclusivo. Renee não está ali para ajudar. Ela é astuta e sacana. O meio para conseguir o que quer é via Owen, o cara que tem contato com todo mundo e, de quebra, é sobrinho da detetive que investiga o caso. Dores de cabeça vêm aí!
Carver praticamente recebeu o atestado de óbito. A petulância dele para cima de Ellie, bem como a rapidez e a frieza durante a investigação, ganhou uma justificativa: penitência. Ele quer compensar a falha do caso Rosemont solucionando o de Gracepoint. Tenho que dizer que essa versão do personagem do Tennant é mais insuportável que a versão britânica. O cara é centralizador e vive escorado para dar um quique na Ellie. Não acho isso nem um pouco ruim, dou até risada. A pressão de Carver para cima dela foi de tirar qualquer um do sério, claro, mas, como disse no piloto, ele tem muito que ensinar à parceira, especialmente sobre desligar as emoções e mergulhar na investigação com os pensamentos totalmente imparciais.
Agora, a trama atingiu um pico que apresentou a diferença com Broadchurch. A preocupação extrema de Carver com o traficante da Chloe e o papel com um número no casaco de Danny são insights novos. Os minutos finais me fizeram respirar de alívio por mostrar que os produtores americanos realmente mudaram a perspectiva da investigação. Estou morrendo de curiosidade porque não sei o que esperar.
Pelo menos, não se fala mais das baleias de Gracepoint.